sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Desde sempre.

Eu não quero mais ouvir político falar de sustentabilidade, saúde, educação, moradia, feitos anteriores, bolsa tudo quanto é coisa, dinheiro em cueca, violência familiar, auxílio pra narcótico. Fazem anos e anos que os mesmos assuntos são abordados, a muitas e muitas gerações. Há um progresso, de fato. Mas é lento, tão lento que talvez em quinze ou vinte gerações, vamos estar quase lá. O 'amplo progresso entre zero e um' já dito pelo Dead Fish, é frustrante de ver, de ouvir e ainda mais de sentir interesse.
Também não quero mais ver o povo reclamando na frente da televisão esperando a novela das nove começar. Recuso-me a escutar críticas sobre a copa do mundo no Brasil, ou os lamentos de programas sensacionalistas.
Somos um mais acomodado que o outro, afinal ninguém vai estar vivo pra ver a mudança, nos contentamos com um milhão de viaturas nas ruas dando enquadro em maconheiro, pra estampar no rosto de quem caminha por perto um sorriso ao sentir uma segurança de faixada. Enquanto são poucos os que lembram ou sabem que enquanto um ou outro usuário perde cinco reais de maconha, a polícia ganha cinco mil indo chantagear os donos da biqueira na favela alí do lado.
Falar da educação também tá um verdadeiro porre. O problema não é o aluno passar ou não sem aprender, o negócio é tentar perceber o porque ele não aprende. Se pensar bem, é melhor mesmo repetir vários alunos, assim eles desanimam de fazer a mesma série mais uma vez e desistem logo de estudar, o tal político fica bem falado e as ruas mais lotadas, mais barraquinhas na feira.
Tá tudo tão as margens que eu não sei mais se me ausento ou se caminho contra um fluxo de falta de educação, atrocidades e uma desigualdade que me faz ter vontade de vomitar. Sou frustrada com muita coisa, mas a pior delas é por ser mais uma pessoa no mundo que só tem o poder de fazer um punhado de reclamações sentada na frente do computador.
Apesar da frustração, seguimos com esperança e não é por haver alguma irônia, acontece que viver com as reclamações, acaba tornando tudo o que está errado muito pior e se existe o sorriso, vou é procurar um motivo pra sorrir e me agarrar com todas as forças ao que eu já tenho, evitando assim que eu me perca nessa alienação doentia.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pode não ser fixo.

Faz umas duas horas que eu estou sentada na frente do computador encarando uma folha de papel em branco como se nela houvesse alguém para me soprar o começo de um depoimento que preciso fazer para a aula de Português. Porque todo mundo sabe, o difícil é o começo.
Eu nunca fui organizada, mas eu sei que de alguma forma, eu dou um jeito sempre. Sou péssima em exatas e definitivamente é muito complicado entender a lógica de uma equação. Queria número em contas, não letras. Ainda não aprendi a fórmula mágica para multiplica-las ou dividi-las, mas eu aprendo. Esqueço nomes, não consigo arrumar a minha cama por mais de três dias, passo semanas sem postar no blog, pois por mais que eu goste, me falta paciência. Aliás, de vez em quando me falta paciência pra tudo, pra escutar, pra tentar entender e pra explicar.
Ainda sim, existe uma coisa da qual nunca me falta tempo e algumas vezes até pego o tempo das outras coisas para fazer planos, eu gosto de planejar, qualquer coisa. Mesmo que não dê certo, sinto que é de extrema importância ter uma referência, por mais que ela não seja fixa ou não tenha fundamento, não deixa de ser um bom começo. Mude quantas vezes for, tenha os defeitos que tiver, mas não deixe de correr atrás do que você considera importante e se por acaso parecer cansativo de vez em quando, descanse, não desista.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sobre quem vaga.

Ela enxerga, mas não tem pra onde olhar, não quer olhar pra nada. Seus olhos vagam tão secos, sem brilho, a claridade deles espanta por nem se quer expressar indiferença. Antes houvesse um odio dos outros como prova de que eles presenciam alguma forma de vida, nem isso. A decepção é interna, aqueles olhos externos são faixada, apenas para compor uma forma humana, a parte que enxerga está virada para dentro, parte dela que me causa mais remorso.
Antes a dificuldade terminasse nos insultos que ela orgulhosamente faz sair dos lábios pálidos enquanto bagunça o cabelo sempre com o mesmo movimento, antes eu continuasse intimidada por um semblante totalitarista e não precisasse descobrir que todos esses detalhes são parte de uma armadura de guerra, daquelas complicadas que só se coloca ou tira com ajuda e no final da batalha. Vestindo ela, sua segurança parece estar intacta, o que é viável só até chegar a hora de dizer: 'Missão cumprida, os tempos de guerra agora são parte do passado!' Embora a guerra já tenha chegado ao fim, a armadura ainda lhe oferece proteção, o que te faz permanecer com ela, não importa se é pesada ou desconfortável, acostumou-se com sua missão de permanecer viva, esquecendo-se de que o propósito de permanecer vivo executar a ação, no caso: viver.
Não vejo vida em seus olhos que vagam, não percebo ódio em seus insultos, menos ainda outros detalhes para a minha descrição, o tempo que passei observando-a foi todo destinado a tentar encontrar um motivo para tanta desilusão, não sei. Que seja mais um dos meus exageros, seria melhor assim.